Agora chegou a hora de entender o que ocorre com o corpo
quando experimentamos uma noite mal dormida ou passada em claro. As queixas
mais comuns nessas situações são: sonolência, irritação, cansaço, desatenção e memória
fraca estão entre as consequências mais comuns. No entanto, pesquisas recentes
demonstram que dificuldades esporádicas para dormir não prejudicam tão
fortemente o organismo, que é capaz de se recuperar nas noites de sono
seguintes. O grande problema é quando dormir mal (ou não dormir) vira rotina.
Pode ser o caso de profissionais que optam pelo turno de trabalho noturno e
que, portanto, se submetem a um padrão inadequado de descanso. Entre os
resultados de não se descansar nos horários corretos (ou seja, de não dormir à
noite) está o aumento de problemas cardiovasculares, como hipertensão e
infarto.
E cada vez mais o sono das pessoas é afetado pela queda da
qualidade de vida nas grandes cidades. Fatores externos como barulho excessivo,
poluição luminosa, do ar e das águas pioram a qualidade de vida e têm reflexos
sobre o sono. Isso contribui para que padrões inadequados de descanso acabem
virando hábito, fazendo com que grande parte dos habitantes desses locais sofra
com a baixa qualidade do sono.
QUARTO DE DORMIR
INFLUENCIA QUALIDADE DO SONO
Além disso, o comportamento das pessoas dificulta a
preservação de um sono saudável. Comer muito é prejudicial à saúde de modo
geral, mas comer excessivamente à noite sobrecarrega o organismo e atrapalha o
sono. Ingerir bebidas alcoólicas antes de dormir pode levar a pessoa a roncar
mais e, dessa forma, a perder parte do sono profundo.
Transformar o quarto de dormir num local de estimulação dos sentidos é
igualmente prejudicial, já que contribui para a intensa atividade cerebral.
Estamos falando aqui de assistir televisão, usar computador, telefone celular
ou tablet em horários em que já deveríamos começar a nos preparar para dormir -
e no local que deveria ser propício ao sono. Deixar o quarto de dormir sujo ou
desorganizado como se fosse um depósito de coisas (úteis ou inúteis) também
dificulta a entrada no estado de sonolência. Precisamos, dessa forma, adotar
uma atitude positiva e respeitosa em relação ao sono, a fim de obtermos o
revigoramento necessário para uma vida saudável.
NOITES MAL DORMIDAS
PREJUDICAM CÉREBRO, FÍGADO E CORAÇÃO
Mas até agora abordamos aspectos mais visíveis ou conhecidos
de um sono de baixa qualidade (ou da falta de sono). Entretanto, noites mal
dormidas ou insones também podem causar efeitos difíceis de percebermos sem a
ajuda de especialistas. Esse é o caso de lesões nos órgãos do corpo.
Em se tratando do cérebro, estudos das décadas de 1990 e 2000,
realizados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),
mostraram que dormir menos que o necessário reduz a produção de glutationa no
hipotálamo - região do sistema nervoso central responsável pela regulação da
temperatura corporal, da fome e do ciclo de sono e vigília. A glutationa é uma
substância que trata da eliminação de radicais livres do organismo. Em baixas
quantidades, pode levar ao mau funcionamento ou à morte de células do
hipotálamo, bem como provocar o aumento das concentrações de radicais livres no
corpo. Em decorrência disso, ocorrem danos às células de outra região cerebral,
o hipocampo, com resultados prejudiciais à capacidade de reter informações.
Isso quer dizer que a memória das pessoas insones ou com um sono de baixa
qualidade é afetada. Além de considerarmos processos bioquímicos, não podemos
nos esquecer de que a fase do sono conhecida como REM (sigla que, em inglês,
significa Rapid Eye Movement - Movimento Rápido dos Olhos) é o período de
armazenamento e consolidação de memórias. Portanto, a interrupção desse ciclo
perturba a formação da memória.
No fígado,
as noites mal dormidas elevam a produção de proteínas características de
inflamações agudas (como o fibrinogênio e a proteína C reativa). Além disso, a
adoção de padrões inadequados de descanso gera desgastes no fígado, semelhantes
aos provocados pela ingestão excessiva de bebidas alcoólicas. Isso ocorre em
razão do aumento do consumo de energia pelo organismo. Também o coração é afetado
pela falta de sono. Foram encontradas evidências de que, diante do desgaste a
que é submetido em uma noite mal dormida, o músculo cardíaco busca formas
alternativas de obter energia e pode ficar sobrecarregado.
FALTA DE SONO TEM
RELAÇÃO COM DIABETES E DISFUNÇÕES SEXUAIS
Podemos citar, ainda, a relação entre a baixa qualidade do
sono com doenças muito presentes em nossas sociedades. A começar pela
associação entre falta de sono e diabetes. Um experimento intitulado
"Proteção durante o sono", da Fapesp, feito no final da década de
2000, revelou que noites insones reduzem a sensibilidade do organismo à
insulina a padrões semelhantes aos característicos de indivíduos com alto risco
de desenvolverem diabetes tipo 2.
Nesse sentido, dormir bem é essencial também para prevenir
diabetes de tipo 2, assim como a obesidade - principalmente porque a insulina
desempenha papel importante no metabolismo de carboidratos e proteínas e no
armazenamento de lipídios. Por fim, ainda de acordo com estudos realizados pela
Fapesp, a baixa qualidade do sono também pode levar a disfunções sexuais como a
hiperssexualidade e a impotência, além de afetar a fertilidade e o ciclo
reprodutivo feminino.
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