sábado, 29 de agosto de 2015

Células-tronco dão suporte ao paraplégico




A lesão medular traumática ocorre quando um evento traumático, como acidentes automobilísticos ou motociclísticos, mergulho, agressão com arma de fogo ou queda resulta em lesão das estruturas medulares interrompendo a passagem de estímulos nervosos através da medula. A lesão pode ser completa ou incompleta. A lesão é completa quando não existe movimento voluntário abaixo do nível da lesão e é incompleta quando há algum movimento voluntário ou sensação abaixo do nível da lesão. A medula pode também ser lesada por doenças (causas não traumáticas), como por exemplo, hemorragias, tumores e infecções por vírus.

Nas lesões medulares completas, há paralisia, perda de todas as modalidades sensitivas (tátil, dolorosa, para temperatura, pressão e localização de partes do corpo no espaço) abaixo da lesão e alteração do controle esfincteriano (urinário e fecal). As lesões cervicais altas determinam tetraplegia (paralisia dos quatro membros). Na tetraplegia, a insuficiência respiratória é frequente, devido ao comprometimento do nervo que comanda a contração do diafragma (nervo frênico). Nas lesões cervicais baixas, observa-se paralisia dos membros inferiores e das mãos. Nas torácicas, a paralisia é de membros inferiores.

Nas lesões medulares incompletas (síndromes medulares anteriores), há comprometimento dos dois terços anteriores da medula, que se manifesta por déficit motor e sensitivo abaixo do nível da lesão, sendo que a sensibilidade profunda (vibratória e noção da posição de partes do corpo no espaço) está preservada. Essa síndrome sugere uma compressão anterior da medula como a associada a hérnias de disco traumáticas ou a lesões isquêmicas secundárias.

A pesquisa

Na tentativa de criar novas terapias, um grupo de pesquisa da Universidade da California iniciou uma série de estudos para explorar mais profundamente a hipótese de que neurônios em fases iniciais exibem maior capacidade de estender axônios na lesão medular grave (1). A ideia foi inserir células-tronco neurais na medula lesionada de ratos com o objetivo de melhorar o quadro funcional, seja limitando os danos secundários ou por substituição direta de células, formando novas ligações sinápticas no local da lesão.Para isso, foi utilizada uma mistura de células-tronco e células precursoras neurais. As células precursoras neurais são responsáveis por originar os três principais tipos de células do sistema nervoso, neurônio, células da micróglia e células da macroglia, incluindo astrócitos. Células-tronco são capazes de continuar a dividir por diversas vezes para gerar células adicionais e podem se diferenciar em qualquer tipo celular do organismo, dependendo dos estímulos que receber. Tanto as células precursoras neurais como as células-tronco podem ser isoladas do sistema nervoso em desenvolvimento ou derivadas de células-tronco pluripotentes, incluindo células de embriões ou células da pele humana desdiferenciada (células-tronco induzidas).

Este estudo usou um modelo de transecção completa (corte total da medula no sentido horizontal) que geralmente é evitado, devido a dificuldade em conseguir que as células vizinhas sobrevivam, alterando a estrutura anatômica associada à lesão e aumentando a perda funcional. Sete semanas após a transecção, ratos enxertados com células-tronco e percussoras neurais tiveram o sítio da lesão completamente preenchido por células implantadas diferenciadas em neurônios, astrócitos e oligodendrócitos em proporções mais ou menos iguais. Mais importante ainda, os neurônios enxertados conseguiram estender seus axônios na medula do hospedeiro sentido rostral (para cima) e caudal (para baixo) por mais de 27 mm (9 segmentos da medula espinhal), e também observaram a formação de bainha de mielina nestes axônios, o que aumenta a condução do impulso nervoso.

Este resultado só foi possível por terem enxertado as células-tronco em uma matriz de fibrina que reteve estas células no local da lesão, e por injeção de um coquetel de proteínas e fatores de crescimento que deu suporte a sobrevivência celular e crescimento vascular interno.

Outros estudos utilizaram células-tronco neurais de ratos adultos, que são produzidas durante toda a vida em locais específicos, como no hipocampo ou na região subventricular. Muitas das células de adultos enxertadas na lesão medular adotaram um destino glial, algumas expressaram marcadores oligodendrogliais e, em poucos casos marcadores para axônios. A comparação entre os enxertos de células-tronco embrionárias ou células-tronco neurais de adultos mostrou que os resultados foram melhores para células embrionárias, tornando evidente que a idade, a fonte e o método de enxerto de células para os locais de transecção da medula têm um profundo efeito sobre a sobrevivência celular, diferenciação e capacidade de extensão axonal.

Estudos recentes têm enxertado células-troncos neurais derivadas do sistema nervoso embrionário humanos em roedores e primatas que sofreram trauma medular. A sobrevida dos enxertos foi relativamente modesta, e a marcação para neurofilamento específico humano foi observada na extensão de axônios humanos a curtas distâncias a partir de enxertos no local da lesão.

Finalmente, a reabilitação intensiva pode ajudar a re-estabilização dos circuitos, aumentando a recuperação funcional pela estabilização de novas conexões e poda de ligações comprometidas.

 

 

 

 

0 comentários:

Postar um comentário