A lesão medular traumática ocorre quando um evento
traumático, como acidentes automobilísticos ou motociclísticos, mergulho,
agressão com arma de fogo ou queda resulta em lesão das estruturas medulares interrompendo
a passagem de estímulos nervosos através da medula. A lesão pode ser completa
ou incompleta. A lesão é completa quando não existe movimento voluntário abaixo
do nível da lesão e é incompleta quando há algum movimento voluntário ou
sensação abaixo do nível da lesão. A medula pode também ser lesada por doenças
(causas não traumáticas), como por exemplo, hemorragias, tumores e infecções
por vírus.
Nas lesões medulares completas, há paralisia, perda de todas
as modalidades sensitivas (tátil, dolorosa, para temperatura, pressão e
localização de partes do corpo no espaço) abaixo da lesão e alteração do
controle esfincteriano (urinário e fecal). As lesões cervicais altas determinam
tetraplegia (paralisia dos quatro membros). Na tetraplegia, a insuficiência
respiratória é frequente, devido ao comprometimento do nervo que comanda a
contração do diafragma (nervo frênico). Nas lesões cervicais baixas, observa-se
paralisia dos membros inferiores e das mãos. Nas torácicas, a paralisia é de
membros inferiores.
Nas lesões medulares incompletas (síndromes medulares
anteriores), há comprometimento dos dois terços anteriores da medula, que se
manifesta por déficit motor e sensitivo abaixo do nível da lesão, sendo que a
sensibilidade profunda (vibratória e noção da posição de partes do corpo no
espaço) está preservada. Essa síndrome sugere uma compressão anterior da medula
como a associada a hérnias de disco traumáticas ou a lesões isquêmicas
secundárias.
A pesquisa
Na tentativa de criar novas terapias, um grupo de pesquisa
da Universidade da California iniciou uma série de estudos para explorar mais
profundamente a hipótese de que neurônios em fases iniciais exibem maior
capacidade de estender axônios na lesão medular grave (1). A ideia foi inserir
células-tronco neurais na medula lesionada de ratos com o objetivo de melhorar
o quadro funcional, seja limitando os danos secundários ou por substituição
direta de células, formando novas ligações sinápticas no local da lesão.Para
isso, foi utilizada uma mistura de células-tronco e células precursoras
neurais. As células precursoras neurais são responsáveis por originar os três
principais tipos de células do sistema nervoso, neurônio, células da micróglia
e células da macroglia, incluindo astrócitos. Células-tronco são capazes de
continuar a dividir por diversas vezes para gerar células adicionais e podem se
diferenciar em qualquer tipo celular do organismo, dependendo dos estímulos que
receber. Tanto as células precursoras neurais como as células-tronco podem ser
isoladas do sistema nervoso em desenvolvimento ou derivadas de células-tronco pluripotentes,
incluindo células de embriões ou células da pele humana desdiferenciada
(células-tronco induzidas).
Este estudo usou um modelo de transecção completa (corte
total da medula no sentido horizontal) que geralmente é evitado, devido a
dificuldade em conseguir que as células vizinhas sobrevivam, alterando a
estrutura anatômica associada à lesão e aumentando a perda funcional. Sete
semanas após a transecção, ratos enxertados com células-tronco e percussoras
neurais tiveram o sítio da lesão completamente preenchido por células
implantadas diferenciadas em neurônios, astrócitos e oligodendrócitos em
proporções mais ou menos iguais. Mais importante ainda, os neurônios enxertados
conseguiram estender seus axônios na medula do hospedeiro sentido rostral (para
cima) e caudal (para baixo) por mais de 27 mm (9 segmentos da medula espinhal),
e também observaram a formação de bainha de mielina nestes axônios, o que
aumenta a condução do impulso nervoso.
Este resultado só foi possível por terem enxertado as
células-tronco em uma matriz de fibrina que reteve estas células no local da
lesão, e por injeção de um coquetel de proteínas e fatores de crescimento que
deu suporte a sobrevivência celular e crescimento vascular interno.
Outros estudos utilizaram células-tronco neurais de ratos
adultos, que são produzidas durante toda a vida em locais específicos, como no
hipocampo ou na região subventricular. Muitas das células de adultos enxertadas
na lesão medular adotaram um destino glial, algumas expressaram marcadores
oligodendrogliais e, em poucos casos marcadores para axônios. A comparação
entre os enxertos de células-tronco embrionárias ou células-tronco neurais de
adultos mostrou que os resultados foram melhores para células embrionárias,
tornando evidente que a idade, a fonte e o método de enxerto de células para os
locais de transecção da medula têm um profundo efeito sobre a sobrevivência
celular, diferenciação e capacidade de extensão axonal.
Estudos recentes têm enxertado células-troncos neurais
derivadas do sistema nervoso embrionário humanos em roedores e primatas que
sofreram trauma medular. A sobrevida dos enxertos foi relativamente modesta, e
a marcação para neurofilamento específico humano foi observada na extensão de
axônios humanos a curtas distâncias a partir de enxertos no local da lesão.
Finalmente, a reabilitação
intensiva pode ajudar a re-estabilização dos circuitos, aumentando a
recuperação funcional pela estabilização de novas conexões e poda de ligações
comprometidas.
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